Pular para o conteúdo principal

a thought at 04:41

Eu ainda podia sentir seus dedos enroscados nos meus, hesitando em acariciá-los, tão cheio de conclusões precipitadas e falta de confiança, como se não soubesse que possuía cada centímetro do meu coração.
        Me lembro de sorrir para ele, murmurando algo por entre risos, pois o jeito como hesitava, tão preocupado em não fazer nada de errado, me fazia me sentir especial. Me fazia me sentir querida.
        Seus olhos se desviavam dos meus, olhando para algum lugar por entre as silhuetas dos galhos das árvores que nos cobriam, seu sorriso amarelado de timidez. Eu sussurrei que estava tudo bem e tudo o que ele fez foi olhar para o chão por alguns segundos antes de passar os dedos pelos meus, fazendo pequenos círculos aqui e ali. Aquele seu sorriso bobo tomou conta de seu semblante e não pude evitar rir. Tão certo, tão... sincero.
        Se ele se atrevesse a dizer que me amava, estaria sendo sincera ao dizer que o amava mais, pois eu amava. Com todo o meu coração, com toda a força que podia reunir quando estava ao seu lado. A mera ideia de não tê-lo por perto não me fazia me sentir sozinha, mas sim incompleta. Eu sentia que deveria dizê-las, as tão temidas três palavrinhas, em voz alta, por que ele merecia saber. Por que eu precisava dizer.
        Então agora quem olhava para as silhuetas era eu, buscando uma maneira de fazer ser especial, de pronunciar as palavras sem gaguejar pois meu coração de repente acelerava e minha respiração se tornava ofegante. Vi as sobrancelhas dele se fecharem em confusão depois de me verem hesitar por dois segundos, abrir a boca e a fechar logo em seguida. E, num ato de desespero, disse a ultima coisa que deveria dizer à ele naquela noite.
        — Eu não gostei do bolo, na verdade. — senti um arrependimento instantâneo — Eu menti... desculpa.
        Ele riu tão alto que cobri a boca com a mão, olhando na direção da porta de sua casa em choque.
        — Fred! — e, involuntariamente, fui contagiada pelo seu riso — Sua mãe!
        Ele escondeu o rosto no meu pescoço, com as duas mãos sobre a boca. Algo que não ajudou muito, mas foi suficiente. Depois de alguns minutos tentando segurar o riso, seus ombros finalmente pararam de sacudir. Fred respirou bem fundo antes de se endireitar e olhar nos meus olhos, seu rosto tão perto que sua respiração beijava minha pele.
        — Sei que mentiu, Mariella... e eu a amo por isso.






da coletânea "give me your hand"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

constantes questionamentos do que poderia ter sido

Caro você, Escrevo aqui aquilo que jamais serei capaz de dizer. Aquilo que tem sido mantido em um lugar muito escuro do meu coração chamado "desesperança"; aquilo que às vezes posso ter certeza sobre, e as vezes não.           A verdade é que eu poderia ter dito algo mais cedo, se não me preocupasse com você, também. Mas prometi à mim mesma que não faria nada que não tivesse certeza, pois não me perdoaria por magoá-lo com minhas incertezas. Então nunca pude dizer a verdade, pois não sabia quanta sinceridade havia nela.           Então, eis aqui minha meia-verdade: eu adoraria estar com você naquela noite, na praça central, onde celebravam o centésimo sétimo aniversário de Woodstall, onde Phill disse tê-lo visto segurando um anel. Eu teria amado dizer que sim, mas essa não era minha realidade. Vivemos em mundos paralelos, mas distintos, e você sempre soube disse. Mas, diferente de mim, você optou por procurar meios, maneiras de fazer dar certo. E aqueles foram os 365 dias mais

aquilo que lhe fora suficiente

"E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará" João 8:32           E então não estava mais só. Como quem desperta de horas de um sono profundo, assim emergia, do inconsciente, a paz, como quem sempre estivera ali, aguardando apenas um sinal para sair da tenra escuridão.           E então a sobriedade a agarrou, a fazendo ver claramente pela primeira vez em longos anos  neblinosos , e o que via era extensos campos de esperança, coberto com árvores de oportunidades, como se houvesse sido cega por toda vida e finalmente pudesse enxergar.           E então só havia Ele, e aquilo lhe fora suficiente.